quinta-feira, 31 de março de 2011

De Moleque a aprendiz

De Moleque a Aprendiz Enquanto adolescente-criança, Noite de sonhos, dia de moleque, Vida de bola, tempo de festança, Bolas de gude, pipa, pião, Álbum de figurinhas, jogos de botão... Doce com brigas na volta da escola, Encontro com o almoço, Corpo no sofá, cabeça na rua, Pé no campo de futebol, olho no rio Costas no sol, pensamentos na lua. Nisso chegou o dia do serviço militar, Servir à Marinha do Brasil, Cumprir o dever de todo brasileiro, Aprender a defender a Pátria! Na Escola de Aprendizes, Foi grumete e marinheiro, Nas boas vindas do comandante, A corneta comandou o cerimonial E o canto do Hino Nacional. - Carregar! Apontar! Fogo! Vigoroso, o sargento ordena. - Cortar grama, encerar o piso, Serenamente o cabo diz. E assim, vibrante e empolgado O moleque virou aprendiz. Homenagem a todos os monitores, instrutores e professores das Escolas de Aprendizes-Marinheiros da Marinha do Brasil. Poema do livro Vida de Marinheiro - 2007, Editora Elogica, Pernambuco. Ingressei na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco, no dia 22/07/1968, cheio de sonhos. Eu era um adolescente a mais! Antes dos meus cinco anos de idade, meu pai já havia sumido. A casa fora devolvida por falta de pagamento e nossa vida ficou péssima. Éramos quatro: eu, minha mãe, e dois irmãos mais novos. Somente reencontrei meu pai em 1982, em Pelotas/RS. Na época, eu era 3ºSG-MO, condutor do Contratorpedeiro “Mariz e Barros” (D-26), o navio atracou no porto de Rio Grande e fui visitá-lo. Aos sete anos, comecei a trabalhar na feira de minha cidade, por conta própria, aos dez, em um armazém, em Bonança/PE e aos treze, em uma mercearia em Recife/PE. Só interrompi a carreira de comerciário para me apresentar na Escola. Na época dos exames encontrava-me cursando a 6ª série, por isso, a aprovação no concurso para a Marinha elevou muito minha autoestima. Foi o prêmio de quem trabalhou durante o dia e estudou à noite. O monitor, ao receber nosso grupo, logo, preveniu: - A moleza acabou, só fica na Marinha quem estuda, quero todo mundo “queimando”, aqui não é lugar de “escamado”, “onçeiro”, “bobinho”, “bola sete” nem “rebarbado”. Meu conselho pra quem quer continuar é “foi cinza é pra dar continência, foi amarelo é pra passar kaol”, quem veio pra Marinha pra contrariar à família pode desistir. Nada disso me desmotivou, sentia-me como quem tivesse auferido um presente do destino. Estava em jogo a mudança que a Marinha me proporcionaria. De imediato, a nova vida me ofertou 521 irmãos, oriundos de Recife, interior de Pernambuco e de outras cidades e estados. A maioria tinha visão de vida diferente de mim, mas, de comum, o principal: a juventude. Logo, começou a rotina do Curso de Formação de Marinheiro. O período de adaptação; a entrega de uniformes; as aulas; o estudo obrigatório; os exercícios físicos e a prática de esportes; os serviços diários e noturnos e os serviços de rancho; a ordem unida; e os desfiles militares na Avenida Conde da Boa Vista, o primeiro no dia da Pátria, 07 de setembro de 1968 e o segundo em 07 de setembro de 1969. Da alvorada ao toque de silêncio tudo era transformação! A comida era variada e balanceada, precisava apenas um pouco mais de tempero, entretanto, foi responsável pela desistência de alguns colegas. Neste tocante, na chegada, já aprendi que “malhar” ou dispensar rancho dava cadeia. A viagem de adestramento no Navio Transporte “Ary Parreiras” deu o sinal de que o mar nos esperava. Visitamos Natal/RN, Fortaleza/CE, São Luis/MA e Belém/PA. Enfim, tudo que jamais pensei em fazer naquela idade. Continuando o mundo surpreendente da Escola, encontramos ainda piscina, salão de recreio, sessões cinematográficas no ginásio de esportes, banda marcial; equipes de futebol de campo e salão, vôlei, basquete, natação, judô, boxe, atletismo, apito; acompanhamento médico e dentário; e mais uma imensidão de atividades. Não participei de nenhuma equipe... Até para o pelotão elétrico não fui selecionado. Acho que isso se deu pela timidez e a infância curta, alguns diziam que eu pertencia a “certa equipe”, mas, vou me omitir de dizer qual. Certa vez, já no final do curso, o professor de judô, Diógenes de Moraes, durante a aula de defesa pessoal, me escalou com mais dois colegas para lutar com Ari, AM 512, que era uns dos melhores de sua equipe. Mesmo sendo três contra um, somente nos livramos da “chuva de sopapo” quando o professor resolveu terminar a “luta”. Ari sempre foi muito bom naquele esporte e afável companheiro de toda turma. Hoje, continua meu amigo do peito. Para concluir, gostaria de confessar aos Eternos Adolescentes da turma que aproveitei o máximo a nossa escola - a inesquecível Faculdade. Complementei meus conhecimentos de um modo geral, troquei muitas figurinhas com os estimados Indianos, escutei e coloquei em prática as orientações dos mestres civis e monitores militares, fortaleci meus propósitos pessoais baseado nos exemplos da sua tripulação, e me diverti bastante, naquela doce época da jovem guarda, brilhantina, assustados, cuba-libres e namoros. Saí para servir a Marinha levando na bagagem preparação para ser um bom Marinheiro, na cabeça, a esperança e no coração, a amizade dos irmãos Indianos que guardo comigo para sempre. Beltrão - AM 423

quarta-feira, 25 de março de 2009

Livros

Stephem Beltrão tem três livros:

Retratos do Tempo;

Vida de Marinheiro;

Mesa de Bar e

Memórias da Turma Índia 1968-1969.